#03 - Jornal da Semana

Entre os avanços da ciência e os filtros das redes sociais, entre o bem-estar genuíno e a pressão por um ideal inatingível, esta edição convida à pausa e à reflexão:Será que ser saudável virou sinônimo de ser perfeito?

BOM DIA!

Hoje vamos abrir o MEDP12 com uma pergunta estranha, mas curiosa:

Será que realmente faz bem colocar o rosto num balde de gelo?

A princípio parece loucura — e, convenhamos, é um baita susto. Mas esse choque térmico tem um efeito inesperado e nesta edição discutiremos um pouco mais sobre esse assunto para entender a ciência por trás desse método que está tão em alta.

Talvez essa seja a metáfora perfeita pra começar o dia. Porque às vezes, o que parece desconfortável no início... é justamente o que a gente precisa pra mudar o ritmo.

Então, seja esse gelo um banho de realidade, um clique de lucidez ou só um lembrete gelado de que você está vivo:

Que hoje seja consciente, inteiro e com propósito.

#01 - O NOVO PADRÃO ESTÉTICO MASCULINO: VAIDADE OU EXCESSO?

#02 - ROTINAS MATINAIS, GELO NO ROSTO E A BUSCA PELA PERFEIÇÃO

#03- A VOLTA DO GELO: WIN HOF E O CORPO NA GEADA

#04 - “PERFEIÇÃO NO BISTURI: ATÉ ONDE VAI A VAIDADE, E ONDE ENTRA A RESPONSABILIDADE?”

#05 - POR QUE ROSTOS SIMÉTRICOS NOS HIPNOTIZAM?

#06 - A NOVA DISMORFIA TEM FILTRO. E QUASE NINGUÉM PERCEBE.

#01 - O NOVO PADRÃO ESTÉTICO MASCULINO: VAIDADE OU EXCESSO?

Nos últimos meses, o crescimento do visagismo masculino tem ganhado força. Para quem ainda não conhece, o visagismo é uma abordagem que busca alinhar estética, personalidade e estilo de vida. Vai além do corte de cabelo ou da roupa da moda — trata-se de construir uma imagem que comunique quem você é (ou quem você quer parecer ser).

Por um lado, esse movimento trouxe um olhar mais cuidadoso dos homens com a própria imagem, ampliando o repertório de autocuidado: skincare, moda, terapias estéticas e maior atenção ao bem-estar. Surgiu um interesse real por aparência, identidade visual e equilíbrio — o que é positivo. Ao mesmo tempo, vemos o retorno de uma estética clássica, com inspiração em ícones elegantes, roupas estruturadas e cabelos mais longos. O estilo “old money”, antes reservado a nichos específicos, agora domina o feed do Instagram, do TikTok e das campanhas de moda.

Mas até que ponto esse padrão é saudável?

O que antes era uma comparação pontual — com um personagem de filme, com um amigo mais estiloso ou com uma celebridade distante — agora é um bombardeio constante de imagens perfeitas. Estilos de vida “aspiracionais” ocupam 24 horas do nosso feed. E o que parecia autêntico e libertador começa, silenciosamente, a se tornar apenas mais um padrão estético rígido.

Hoje, todo mundo quer ser o "old money". Ontem era o degradê, amanhã será outra tendência. Mas e a autenticidade? Onde ficam os valores individuais?

Para ilustrar essa reflexão, escolhemos um personagem provocador como pano de fundo desta edição: Patrick Bateman, do filme Psicopata Americano. Figura emblemática, Bateman é a representação extrema de uma busca incessante por uma imagem perfeita, uma rotina calculada ao milímetro e uma obsessão pela estética como símbolo de poder. Claro, estamos falando de uma ficção — mas que reflete, de forma quase desconfortável, exageros cada vez mais comuns.

E esse fenômeno não está apenas nas entrelinhas.

Estudos recentes já demonstram um aumento expressivo nos transtornos alimentares e quadros de depressão entre homens jovens. De acordo com uma matéria publicada na BBC News Brasil (2024), a pressão estética masculina é uma pauta crescente nas clínicas de saúde mental. Outro levantamento da Harvard Health mostra que mais de 25% dos homens entre 18 e 30 anos relatam insatisfação intensa com a própria imagem corporal, muitas vezes mascarada por piadas ou uma cultura de “força” emocional.

A vaidade se tornou um disfarce elegante para a vulnerabilidade?

➕ LEIA MAIS:

Encerramos esse texto com uma provocação:

Se o gelo no rosto nos desperta para o agora, será que precisamos também de um choque de consciência para enxergar quando o cuidado vira cobrança e quando o estilo vira prisão?

Com olhos atentos — e mente livre.

Texto escrito por Luiz.E.M.Freire

❄️ #02 - ROTINAS MATINAIS, GELO NO ROSTO E A BUSCA PELA PERFEIÇÃO

Nas últimas duas edições, já conversamos aqui no Projeto12 sobre o novo padrão de estilo de vida “perfeito”: alta performance, disciplina estética, saúde emocional medida em ciclos de produtividade… e claro, muito conteúdo no feed.

Hoje, queremos trazer mais uma peça desse quebra-cabeça: o gelo.

Quem viralizou nas redes sociais com esse conceito foi Ashton Hall, influenciador e ex-jogador de futebol americano. Com mais de nove milhões de seguidores, Ashton compartilha diariamente vídeos sobre sua rotina matinal — e foi exatamente isso que o transformou em um fenômeno.

Acordando religiosamente antes das 4h da manhã, sua agenda inclui treino físico, leitura, skincare, banho gelado e trabalho focado até as 9h30 da manhã. Em um dos vídeos mais populares, ele escreveu:

"Dia 191 da rotina da manhã que mudou a minha vida. 3h50 a 9h30. O pecado vive tarde da noite. Se está lidando com uma mente fraca, más decisões ou falta de produtividade, dorme cedo. 4 da manhã as 8 da manhã ninguém está te ligando ou distraindo… eles estão dormindo."

Além da disciplina, o que chama atenção é o uso diário de água gelada e gelo no rosto, prática que muitos associam a estímulo mental, melhora da circulação e redução de inchaço. O método, apesar de popular, nos leva a uma pergunta: até que ponto isso é realmente saudável?

Wim Hof desenvolveu um método próprio, que combina exposição ao frio, respiração profunda e meditação. Ele alega benefícios como fortalecimento do sistema imunológico, melhora no humor, redução da inflamação e aumento da energia. Inclusive, estudos preliminares apontam que a exposição controlada ao frio pode estimular a liberação de noradrenalina, melhorando o foco e reduzindo sintomas depressivos (BBC Future, 2023).

Por outro lado, há riscos importantes: uso excessivo ou mal orientado pode causar hipotermia, vasoconstrição intensa e queda brusca da pressão arterial, especialmente em pessoas com problemas cardíacos ou desregulações vasculares. Um alerta publicado pela Harvard Medical School (2022) ressalta que métodos extremos como o de Hof devem ser acompanhados com orientação médica e progressividade, jamais iniciados de forma abrupta.

🌬️ DE VOLTA AO ESPELHO: PATRICK BATEMAN E A ROTINA PERFEITA

Curiosamente, Ashton Hall, com sua água gelada e rotina perfeita, nos lembra outro personagem que já discutimos nesta edição: Patrick Bateman, do filme Psicopata Americano. Obcecado por controle, estética e status, Bateman representava — de forma sombria — o retrato de uma geração que confunde autocuidado com autovigilância.

E é aí que mora o dilema: o gelo é símbolo de frescor, clareza, despertar…

Mas, se não tomarmos cuidado, pode se transformar em rigidez, frieza emocional e um novo tipo de aprisionamento — agora, com a etiqueta de “vida saudável”.

Texto escrito por Luiz.E.M.Freire

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#04 - “Perfeição no bisturi: até onde vai a vaidade, e onde entra a responsabilidade?”

Se a perfeição já foi uma ilusão, hoje parece estar a uma cirurgia plástica de distância.

A busca pelo “nariz da influencer”, pelo “contorno da celebridade” ou simplesmente por um reflexo no espelho que arranque um “uau!” nunca esteve tão acessível — e tão exigente. Seja para “levantar aqui”, “afinar ali” ou “fazer uma coisinha só”, as cirurgias estéticas se tornaram quase tão comuns quanto os filtros no Instagram. E o Brasil, mais uma vez, está no pódio.

De acordo com a ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), o país foi vice-campeão mundial em número de cirurgias plásticas em 2023, com 3,3 milhões de procedimentos. Desse total, 2,1 milhões foram puramente estéticos, consolidando o Brasil como líder global nesse segmento. E aqui vai uma surpresa: a busca pela estética perfeita deixou de ser uma exclusividade feminina há algum tempo. Segundo uma matéria do The Washington Post, quase um terço dos pacientes brasileiros hoje são homens, com destaque para procedimentos como a lipo HD, a solução para conquistar o tão desejado “tanquinho comprado” — e sim, tem até citação de um paciente:

“I bought this belly,” disse com orgulho após sua lipoaspiração de alta definição.

Mas, entre a promessa do corpo perfeito e o reflexo no espelho, nem tudo sai como esperado. E, quando isso acontece, não é só o ego que é afetado: o médico também pode se ver no banco dos réus.

É nesse ponto que a vaidade encontra os limites da responsabilidade. Afinal, o cirurgião plástico não opera apenas com o bisturi, mas também com as expectativas (altas) de quem se deita na maca. Por trás de cada lipoaspiração, aplicação de silicone ou rinoplastia, existe um contrato — e, muitas vezes, o desejo de um resultado perfeito.

Quando esse ideal não se concretiza, surge a pergunta que ecoa entre consultórios e tribunais: qual é a responsabilidade do cirurgião plástico? A resposta depende de um detalhe importante: o tipo de cirurgia.

No universo jurídico, a distinção entre cirurgia estética e reparadora faz toda a diferença.

Na cirurgia plástica estética, prevalece o entendimento de que há uma obrigação de resultado — ou seja, o médico não está apenas oferecendo o melhor esforço: ele está se comprometendo a alcançar um resultado específico. Se esse resultado não for atingido, a culpa do profissional é presumida, sendo responsabilidade do médico afastar essa presunção, mediante prova de ocorrência de algum fator imponderável, apto a eximi-lo do seu dever de indenizar por não ter alcançado o resultado pretendido com a cirurgia, tais como caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima.

Além disso, segundo recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), se o resultado da cirurgia estética não agradar ao paciente, só se pode presumir a culpa do médico quando o resultado for desarmonioso, segundo o senso comum — ou seja, não basta a insatisfação pessoal. O médico precisa comprovar que atingiu um padrão estético socialmente aceitável, mesmo que o resultado final não corresponda ao “Pinterest” mental do paciente. E vale um detalhe importante: cada caso é único e será julgado de forma particular, levando em conta as circunstâncias envolvidas.

Já nas cirurgias plásticas reparadoras — aquelas voltadas à reconstrução de funções ou estruturas comprometidas por acidentes, doenças ou malformações —, a obrigação do médico é de meio. Isso significa que o profissional deve empregar todos os recursos possíveis, mas sem a obrigação de garantir um resultado específico. Nesse caso, cabe ao paciente comprovar a culpa do médico, caso haja falha na execução do procedimento.

Resumindo: os procedimentos estéticos, especialmente a cirurgia plástica, nunca foram tão populares, mas, como qualquer escolha, trazem responsabilidades — e isso não envolve apenas o médico, mas também o paciente. Em um país onde a estética ocupa um lugar de destaque e a medicina avança a passos largos, é essencial que todos compreendam onde terminam as expectativas e começam as realidades — tanto no que diz respeito aos resultados quanto à segurança.

Entre o bisturi e o espelho, o verdadeiro segredo está em equilibrar desejo e responsabilidade, para que, ao final, todos saiam ganhando: com resultados estéticos que sejam não apenas desejados, mas também seguros e, claro, realistas.

Texto escrito por Anna.C.Fleury

#05 - Por Que Rostos Simétricos Nos Hipnotizam?

A busca por entender o que torna um rosto bonito atravessa séculos de história, da arte clássica à era dos algoritmos. A ciência contemporânea lança luz sobre um dos principais pilares dessa atratividade: a simetria facial. Mas, afinal, o que há por trás desse encanto quase universal por rostos simétricos?

Simetria e evolução: o código silencioso da saúde

A simetria facial é mais do que uma questão estética. Estudos de psicologia evolutiva e neurociência mostram que ela pode ser um marcador de estabilidade no desenvolvimento, refletindo boa genética, resistência a doenças e sucesso reprodutivo. Rostos simétricos são frequentemente percebidos como mais saudáveis, confiáveis e atraentes, independentemente da cultura ou faixa etária.

Pesquisas com imagens digitalmente manipuladas revelam que a maioria das pessoas prefere versões mais simétricas de um rosto — e até bebês de seis meses passam mais tempo olhando para esses rostos harmônicos. Isso sugere que essa preferência pode ser inata, um mecanismo biológico moldado pela seleção natural.

O papel da proporção áurea e o mito da perfeição

A proporção áurea (1,618:1), usada por artistas como Leonardo da Vinci e amplamente adotada por cirurgiões estéticos, representa uma tentativa de quantificar a beleza. Máscaras faciais baseadas nessa razão foram criadas como referência para medir a harmonia facial. Embora o uso do "phi mask" demonstre correlação com percepções de atratividade, ele não é absoluto, e a beleza ainda escapa, em parte, das fórmulas matemáticas

Curiosamente, o excesso de simetria pode produzir o efeito contrário ao desejado. O chamado "vale da estranheza" — fenômeno em que rostos artificialmente perfeitos provocam desconforto — revela que pequenas imperfeições são essenciais para a naturalidade e autenticidade percebida. O cérebro humano espera pequenas assimetrias como parte do real.

A beleza além do espelho

Apesar da forte influência biológica, a atratividade não é universalmente rígida. Fatores culturais, sociais e subjetivos moldam preferências individuais. O tipo de beleza desejada pode variar com a idade, o contexto (relacionamento de curto ou longo prazo) e até o ciclo hormonal de quem observa.

Além disso, características como expressão facial, carisma e singularidade também contam. Um rosto pode ser tecnicamente menos simétrico, mas ainda assim cativante por seu conjunto expressivo, como demonstram estudos sobre os efeitos de microexpressões e linguagem não verbal na percepção de atratividade

A beleza, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas uma questão de gosto — ela carrega em si marcas profundas da biologia, da história evolutiva e da cultura humana. Quando nos sentimos atraídos por um rosto simétrico, não estamos apenas respondendo a uma estética agradável, mas a um código silencioso que a natureza nos ensinou a decifrar.

A simetria, a proporção e a familiaridade facial funcionam como atalhos cognitivos que o cérebro usa para reconhecer sinais de saúde, fertilidade e estabilidade genética. Porém, à medida que mergulhamos nos detalhes, percebemos que o que nos atrai vai além do que é perfeitamente equilibrado. Paradoxalmente, é na imperfeição sutil que muitas vezes encontramos o charme, a individualidade e a autenticidade. LEIA MAIS

Em um mundo onde filtros, algoritmos e cirurgias prometem a "beleza ideal", talvez seja hora de questionar se essa perfeição visual nos aproxima ou nos afasta do humano. A verdadeira beleza pode estar menos no alinhamento milimétrico de traços e mais na emoção que um rosto desperta, na história que ele carrega e na sensação inexplicável de familiaridade que ele provoca.

A ciência nos ajuda a entender os mecanismos — mas o mistério, esse permanece. E talvez seja isso que continue tornando o rosto humano uma das obras mais fascinantes da natureza. LEIA MAIS

Observação: O termo “Phi mask” geralmente se refere a uma máscara de proporções faciais baseada na razão áurea (phi ≈ 1,618), também conhecida como máscara de Marquardt ou Golden Ratio Mask. Essa máscara foi criada pelo Dr. Stephen Marquardt, um cirurgião plástico, e é usada para analisar a atratividade facial com base em proporções consideradas “ideais” ou harmoniosas.

Sugestão de leitura:

Texto escrito por Pedro Henrique M. Braga

#06 - A nova dismorfia tem filtro. E quase ninguém percebe.

Vivemos na era do reflexo digital. Um tempo em que o espelho perdeu espaço para a câmera frontal do celular e a autoestima passou a depender do número de curtidas em uma foto com filtro. Nunca estivemos tão conectados — e tão distantes de nós mesmos.

As redes sociais, que surgiram como ferramentas para compartilhar momentos e conectar pessoas, tornaram-se vitrines de versões editadas, polidas e, muitas vezes, irreais da aparência humana. A obsessão pelo “ângulo certo”, pela pele perfeita, pelo rosto simétrico e pelas proporções idealizadas criou um ambiente onde a imagem filtrada substituiu a imagem real. E isso tem um custo — emocional, psicológico e até físico.

Segundo McShane (2023), a disseminação de tecnologias de edição facial e corporal, cada vez mais acessíveis e automatizadas, está fragmentando nossa relação com a própria imagem. A geração atual já cresce com uma noção de si moldada por pixels: são adolescentes que se veem mais como suas versões digitais — ajustadas, suavizadas, ampliadas — do que como seus corpos reais diante do espelho.

Essa distorção tem nome: dismorfia digital. Uma percepção alterada da própria aparência, alimentada pela comparação constante com rostos e corpos moldados por algoritmos e filtros de beleza. Não por acaso, aumentam os relatos de ansiedade, depressão e insatisfação com a imagem corporal — especialmente entre jovens mulheres. Estudos mostram que o contato prolongado com padrões de beleza inatingíveis está diretamente ligado ao surgimento de transtornos como dismorfia corporal e baixa autoestima

A pressão para se encaixar nesses moldes impossíveis não vem apenas de celebridades ou revistas, como acontecia em décadas passadas. Hoje, ela é produzida por pessoas comuns, muitas vezes sem intenção, mas com acesso irrestrito a ferramentas de modificação facial — e impulsionadas por algoritmos que favorecem aquilo que é “perfeito”. O que se vê, como destaca um estudo da International Journal of Sciences, é a massificação de imagens tratadas como padrão. O "natural" virou exceção.

E a inteligência artificial vem ampliando esse abismo. De filtros que automaticamente afinam o nariz e clareiam a pele, a influenciadores virtuais criados inteiramente por IA — o que está em jogo não é mais apenas o desejo de parecer melhor, mas a substituição do humano pelo ideal impossível. Como mostra a pesquisadora Feyza Nur Özkan (2025), estamos nos comparando com imagens que não apenas são falsas — mas que nunca existiram.

Essas imagens, disseminadas pelas redes sociais, têm o poder de moldar nossa autoestima, nossos desejos e até nossas decisões de consumo. Marcas que utilizam modelos virtuais hiper-realistas, algoritmos que reforçam padrões eurocêntricos de beleza e plataformas que favorecem o engajamento com conteúdos visualmente padronizados contribuem para a consolidação de um ideal único — e excludente — de beleza.

A consequência? Uma geração que não sabe mais se olha ou se edita. Em que postar uma selfie sem filtro se tornou o novo ato de rebeldia. Em que adolescentes discutem o próximo preenchimento como quem combina qual cor de esmalte usar. Em que se escolhe o cirurgião não pelo currículo, mas pelo quanto ele consegue “replicar o filtro do Instagram”. Tudo isso, claro, em nome da tal “autoestima”, agora reembalada em cápsulas de ácido hialurônico e likes em tempo real.

Vivemos, sem perceber, uma inversão de valores tão profunda quanto silenciosa. A mesma sociedade que prega aceitação e autenticidade nas legendas, aplica filtros automáticos na câmera frontal. Nunca se falou tanto em amor-próprio — enquanto se retoca até a olheira do amor da vida. Seguimos navegando num mar de rostos iguais, ângulos calculados e sorrisos plásticos, como se a espontaneidade fosse uma falha de sistema. É como se, entre tantos rostos perfeitos, a maior imperfeição agora fosse parecer real demais.

E diante de tudo isso, fica a pergunta: será que estamos buscando beleza — ou apenas tentando desaparecer dentro de um padrão que nunca foi nosso?

Texto escrito por Pedro Henrique M. Braga

Sugestões de leitura:

Fica a pergunta:

Entre gelo no rosto e vida perfeita no feed… você está se cuidando — ou apenas tentando caber num molde?

Estamos construindo uma comunidade onde o conhecimento é compartilhado, atualizado e acessível para todos. O Projeto 12 é mais do que um jornal; é a sua aliada na jornada de se tornar um médico preparado para enfrentar os desafios da profissão.

Bem-vindo ao futuro do aprendizado em Medicina!

🧠 Nesta edição, mergulhamos em um momento crucial da medicina e do comportamento contemporâneo.

Falamos sobre saúde, estética, gelo no rosto, rotinas matinais virais e a busca incessante pelo corpo e estilo de vida “perfeitos”. Da disciplina extrema de Ashton Hall à frieza calculada de Patrick Bateman, refletimos sobre até que ponto o autocuidado se transforma em autovigilância.

Entre ciência e redes sociais, entre bem-estar e excesso, esta edição é um convite para desacelerar e questionar:
ser saudável é o mesmo que ser perfeito?