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#05 - Jornal da Semana
🧠 Heróis também colapsam. Nesta edição cinematográfica do MEDP12, explore o lado sombrio da mente com Darth Vader, os Thunderbolts — e talvez... você mesmo.Clique e mergulhe numa reflexão que vai muito além da ficção.
Bom dia, leitor(a)!!
📩 Edição Especial: Heróis Sentem — E Você Também Pode Sentir
Hoje eu queria te contar uma coisa que talvez você já tenha sentido, mas nunca teve coragem de colocar em palavras: até os heróis desmoronam por dentro.

📽️ Um convite do MEDP12 pra você assistir hoje mesmo.
Se você está precisando de um respiro, uma boa história — e talvez uma conversa silenciosa com você mesmo — aqui vai um convite diferente:
assista Thunderbolts, já em cartaz nos cinemas.
Mas não veja só como um filme de ação. Veja como um espelho.
Nas telonas, vemos os Thunderbolts — personagens com força de sobra, mas emocionalmente feridos. Anti-heróis em busca de redenção, mesmo com um passado carregado de culpa, dor e decisões que ainda doem.
Lutam contra vilões, sim — mas, acima de tudo, contra eles mesmos.
E nesse mesmo universo ficcional, há um outro símbolo ainda mais icônico: Darth Vader.
Mas antes da armadura e da respiração mecânica, havia Anakin Skywalker — um jovem sensível, marcado por perdas, criado em um sistema que proibia emoções e sufocava vínculos.
Ele cresceu órfão de pai, separado da mãe, privado de amar.
Foi treinado para ser perfeito — mas nunca foi acolhido quando estava em pedaços.
Amor? Proibido. Medo? Inaceitável. Tristeza? Fraqueza.
Aos poucos, o menino se calou… até que o silêncio o consumiu por dentro.
Ele não nasceu sombrio.
Foi deixado sozinho demais na escuridão.
Essa edição da newsletter mergulha fundo nesse simbolismo.
Conectamos neurociência, saúde mental e cultura pop para falar do que realmente importa:
🩺 o cuidado com o invisível, o olhar para a dor do outro — e o reconhecimento da nossa própria vulnerabilidade.
Porque no fundo, Thunderbolts, Darth Vader e até nós temos algo em comum:
👉 Ninguém é imune às batalhas internas. Nem os que parecem indestrutíveis.
#01 -🧠 Anakin Skywalker e a neurociência de um colapso silencioso
Um olhar do MEDP12 sobre emoções, quedas e reconstrução
Anakin era o escolhido. O prodígio.
A promessa de equilíbrio para toda a galáxia.
Mas também era um menino arrancado da infância, exposto cedo demais à morte, à separação e à responsabilidade. Um jovem marcado por ausência paterna, perda materna e um sentimento profundo de não pertencer a lugar algum.
Cresceu em um ambiente que não validava afeto, que desprezava o medo, que ensinava que amor era apego — e apego era fraqueza.
No universo dos Jedi, sentir era o primeiro passo para cair.
E Anakin caiu. Mas não por ser fraco. Ele colapsou por dentro, em silêncio, e ninguém percebeu a tempo.

✨ 4 de maio foi May the Force Be With You.
Mas o dia 6... é ainda mais importante.
Hoje é o Dia dos Sith — e antes que soe como apenas uma curiosidade geek, te convido a olhar com mais profundidade.
Esse dia simboliza algo mais do que o lado sombrio da Força.
Ele nos oferece uma reflexão poderosa sobre dor, repressão emocional e colapsos silenciosos.
Afinal, quantos “vilões” surgem de feridas que nunca foram tratadas?
O que a neurociência vê por trás da máscara
Como estudantes de medicina, é impossível não enxergar além da narrativa mítica.
Quando olho para Anakin, vejo um paciente em sofrimento psíquico profundo.
Um sistema nervoso sobrecarregado, implodindo aos poucos.
A ciência nos ajuda a entender o que ele nunca conseguiu explicar em palavras:
Amígdala cerebral hiperativa
— O alarme do cérebro emocional.
— Em Anakin, isso aparece nas explosões de raiva, nos impulsos destrutivos, na paranoia crescente.
— Um padrão comum em quadros de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), principalmente em vítimas de perdas precoces e ameaças constantes.Córtex pré-frontal ventromedial hipoativo
— Região que regula julgamento ético, empatia e controle de impulsos.
— Sob estresse crônico, ela se desliga. Decisões ficam impulsivas, reações mais instintivas do que racionais.
— Isso explica a transição abrupta entre proteger e destruir.Sistema límbico fragmentado
— Onde memórias afetivas e traumas são processados.
— Quando Padmé está em risco, Anakin revê o luto da mãe. Mas, sem recursos psíquicos para elaborar essas perdas, a dor se transforma em controle, e o controle em violência.
🕯️ Uma reflexão que não cabe só no universo Star Wars
Anakin não é só um personagem.
Ele representa milhares de pessoas que caminham entre nós com as mesmas dores invisíveis:
🔹 A culpa de sentir demais.
🔹 A vergonha de não conseguir lidar com tudo.
🔹 O medo de ser rejeitado por estar vulnerável.
Na medicina — especialmente na psiquiatria, na neurologia e na clínica geral — precisamos reaprender a reconhecer esses sinais. Porque antes de virar “Darth Vader”, há sempre um Anakin tentando pedir ajuda.
💭 Para pensar:
“Eles não me deixam amar.”
— Anakin Skywalker
Quantas instituições ainda dizem isso — de forma velada?
Quantos pacientes carregam o mesmo fardo — só que sem sabres de luz ou capas pretas?
E mais:
Será que você mesmo não está tentando se manter inteiro enquanto ninguém percebe que algo em você está desmoronando?
📚 Referências e sugestões de aprofundamento:
O corpo guarda as marcas — Bessel van der Kolk
The Emotional Brain — Joseph LeDoux
Behave — Robert Sapolsky
Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith (assista como quem lê um prontuário emocional)
Texto escrito por Luiz.E.M.Freire e Marco.Aurélio.S. Albernaz
#02 - Procrastinação e Perfeccionismo: uma análise do comportamento do que podemos ver ao que podemos sentir

À primeira vista, a procrastinação parece ser o oposto do perfeccionismo. Enquanto a procrastinação é associada à desorganização ou à falta de iniciativa, o perfeccionismo costuma ser visto como sinônimo de disciplina e busca por excelência. No entanto, é justamente essa exigência por fazer tudo da melhor forma possível que, muitas vezes, impede alguém de começar. Quando surgem narrativas de que algo só pode ser feito se for perfeito, torna-se muito mais difícil dar início e concluir uma tarefa do que quando se reconhece a possibilidade de erro ou imperfeição no processo. Nesse sentido, a própria intenção de fazer o melhor pode abrir espaço para adiar, fazendo com que o perfeccionismo possa convidar a procrastinação.
Entre estágios, prazos apertados e uma rotina intensa, é comum que estudantes se sintam travados diante da execução de tarefas. Em certos momentos, tudo parece tão exigente que a opção mais fácil é adiar, e de fato é, mas aqui falamos de uma facilidade em curto prazo de tempo. Isso não significa que falte interesse ou esforço, mas que, muitas vezes, já vivemos situações em que fazer algo considerado imperfeito gerou críticas, comparações, cobranças ou qualquer desconforto.
Como destaca Skinner (1984), nosso jeito de agir não surge do nada, ele se forma nas respostas que vamos recebendo do ambiente ao longo da vida e das nossas infinitas interações com essas respostas.
E se as experiências anteriores mostraram que não cumprir expectativas (suas ou de outros) traz consequências negativas, é natural tentar evitar situações parecidas no presente por apenas carregar a possibilidade de erro ou imperfeição.
Estudos com animais evidenciaram padrões de comportamentos públicos (observáveis) de adiamento diante de tarefas exigentes (Mazur, 1996, 1998), enquanto em experimentos com humanos (Jarmolowicz, Hayashi & Pipkin, 2010) os mesmos padrões foram repetidos, mas foram correlacionados a eventos privados (como sentimentos e emoções) nos relatados dos participantes. Em outro estudo, Weiner (1963) mostrou como o medo de errar e a ideia de punição podem fazer com que as pessoas deixem de agir, mesmo quando sabem o que precisam fazer. Isso vale especialmente quando já estamos emocionalmente sobrecarregados.
Isso mostra que, muitas vezes, a fuga não é apenas da tarefa em si, mas de tudo o que ela representa. Estudar, entregar um trabalho ou se envolver em algo importante pode evocar sentimentos intensos relacionados a cobranças, autocrítica, frustrações anteriores e dúvidas sobre a própria capacidade. É por isso que compreender o que está por trás do comportamento é tão importante quanto organizar o tempo ou planejar o conteúdo, pois aquilo que costuma aparecer em um checklist pode não representar o motivo de querer adiar o máximo possível.
O perfeccionismo, muitas vezes, coloca a sensação de que é melhor nem começar do que fazer algo que não fique excelente. Quando achamos que só vale a pena fazer se for "o melhor possível", acabamos esperando por um cenário ideal que dificilmente chega. E enquanto isso, o tempo passa. Entrar em contato com a chance de ter falhas pode ser desconfortável, mas isso também pode simbolizar um reconhecimento pessoal como ser humano. Evitar qualquer possibilidade de deslize, por outro lado, pode afastar não só da tarefa, mas também de si mesmo e da compreensão do que realmente importa para você.
Não existe segredo ou fórmula mágica que funcione para todos. O que existe é o desafio de cada um reconhecer o que embasa da dificuldade de começar. Mais do que seguir regras rígidas ou listas perfeitas, pode fazer diferença montar estratégias que respeitem sua forma de funcionar, sua relação com o emocional e as possibilidades reais do seu contexto.
No fim das contas, entender nossos próprios hábitos pode ser mais útil do que se cobrar por não ser produtivo o tempo todo. A cobrança, quando surge sozinha, tende a ser apenas um apontamento vago, enquanto a compreensão pode abrir caminhos reais de mudança. Às vezes, é melhor feito do que apenas idealizado.
Enfrentar uma tarefa começa por reconhecer o que ela representa em sua história e o quanto se conecta com o que realmente importa para você.
Anna Bannach M. Parpinelli, Psicóloga Comportamental
Referências:
Jarmolowicz, D. P., Hayashi, Y., & Pipkin, C. S. P. (2010). Temporal patterns of behavior from the scheduling of psychology quizzes. Journal of Applied Behavior Analysis, 43(2), 297–301. https://doi.org/10.1901/jaba.2010.43-297
Mazur, J. E. (1996). Procrastination by pigeons: Preferences for larger, more delayed work requirements. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 65(2), 159–171. https://doi.org/10.1901/jeab.1996.65-159
Mazur, J. E. (1998). Procrastination by pigeons with fixed-interval response requirements. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 69(2), 185–197. https://doi.org/10.1901/jeab.1998.69-185
Skinner, B. F. (1984). Contingências do reforço: uma análise teórica (R. Moreno, Trad., 2ª ed.). São Paulo: Abril Cultural.
Weiner, H. (1963). Response cost and aversive control of human operant behavior. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 6(3), 415–421. https://doi.org/10.1901/jeab.1963.6-415
Texto escrito por Anna Bannach M. Parpinelli, Psicóloga Comportamental

#03 – O vermelho na camisa da seleção não incomoda à toa.
Você já parou para pensar como as cores influenciam o que você sente — e até como você reage ao mundo?
E mais: já pensou o que significa vestir um uniforme vibrante em meio ao peso simbólico de representar um país inteiro?
O debate em torno do novo uniforme da seleção brasileira reacendeu uma antiga questão:
👉 O amarelo permanece como símbolo nacional?
👉 E se fosse vermelho? O que isso mudaria no que sentimos?
🧠 O que a ciência diz sobre cores e emoções?
As cores são estímulos visuais processados no córtex visual, mas que ativam diretamente o sistema límbico, responsável por regular emoções, memória e reações instintivas (Elliot & Maier, 2014).
Veja como a neurociência entende algumas delas:
🟡 Amarelo: cor da atenção, da luz e do estímulo. Pode aumentar criatividade e otimismo, mas em excesso, está associada à ansiedade e irritabilidade (Hemphill, 1996).
🔴 Vermelho: biologicamente relacionado a alerta, perigo e competitividade. Eleva a frequência cardíaca, intensifica decisões rápidas e pode acionar mecanismos instintivos de defesa ou ataque. É a cor mais emocionalmente “quente” do espectro (Elliot & Maier, 2014).
🔵 Azul: promove confiança e serenidade. Usado amplamente em hospitais por sua associação com segurança e tranquilidade (Küller et al., 2006).
🟢 Verde: evoca equilíbrio e estabilidade. Está presente em muitos ambientes terapêuticos por sua ligação com natureza e regeneração emocional.
👕 Vermelho na camisa da seleção: por que causa tanto impacto?
A ideia de que o novo uniforme da seleção poderia ser vermelho gerou grande repercussão.
Não por razões ideológicas — mas pelo que essa cor representa no imaginário coletivo:
O vermelho ativa o sistema nervoso simpático: ele prepara o corpo para ação, aumenta a excitação fisiológica e pode acentuar comportamentos impulsivos.
Em esportes, há estudos que associam uniformes vermelhos com aumento na agressividade e na dominância percebida (Elliot, 2005).
Para o torcedor, pode trazer à tona sensações de urgência, tensão e instabilidade emocional.
Por outro lado, para atletas, o vermelho pode representar coragem, potência e estímulo de performance. Mas o seu uso exige contexto, dosagem e cuidado com a recepção emocional do público.
👉 Ou seja, não é só uma camisa. É um gatilho emocional coletivo.
🩺 E no cuidado com a mente?
Na prática médica e psicológica, ignorar o impacto das cores é negligenciar um fator importante da saúde emocional.
Cores influenciam adesão ao tratamento, confiança no ambiente e até os níveis de estresse do paciente.
Consultórios com tons frios tendem a reduzir ansiedade.
Espaços com cores quentes e vibrantes podem gerar estímulo — ou exaustão, se mal aplicados (Wright, 1998).
💭 Para encerrar:
“As cores que vestimos e vemos dizem muito sobre o que sentimos — e, muitas vezes, o que tentamos esconder.”
📍 Será que a cor que mais nos representa é a que mais nos protege emocionalmente?
Texto escrito por Luiz.E.M.Freire
#04 - Thunderbolts*: A dor por trás do poder

Recentemente, a Marvel lançou mais um capítulo de seu universo cinematográfico , com o provisório de Thunderbolts, recentemente atualizado para, Os Novos Vingadores.
Nessa história, acompanhamos personagens previamente introduzidos em outros projetos da Marvel
Esses personagens tem origens diferentes, poderes diferentes, mas uma coisa em comum: dor. A dor não só une esses personagens, como também os coloca em um caminho, quase como se o destino (ou a personagem de Julia Dreyfus ,Valentina deFontaine) tivesse se desenhado para que eles afunilassem seus proprios caminhos em um só e dali pra frente compartilhariam vivências, experiências e também o duro fardo de ser um super-herói (ou quase isso).
Com uma trama envolvente, relacionável e emocionante, esses protagonistas estão ali com um dever, dar suporte um ao outro. Tanto tecnicamente falando, como um personagem dando suporte ao outro, quanto emocionalmente.
Neste filme fica bem claro que suas ações têm e tiveram consequências, sejam elas para as outras pessoas ou para eles mesmos .
A questão é como isso pode ser interpretado por nós da área da saúde?
Passamos, no mínimo, 6 anos estudando, sem contar a pré-graduação, dando quase que literalmente sangue e suor, com certo intuito , seja de salvar vidas, seja de ter fama, seja de ter dinheiro, ou, para melhorar a vida das pessoas ao nosso redor.
Como suportar a dor de cometer um erro médico, ou de saber que você poderia ter estudado mais para alguma coisa, para algum conteúdo, que você acabou atendendo um paciente com um certo problema, e o que aconteceu foi por um erro seu, por uma noite que você deixou de estudar, o paciente sofreu e possivelmente chegou até a morte.
todos temos traumas sejam eles de de qualquer gravidade . Como ignorar ou superar esses traumas, sozinho, uma vez que a mudança começa em nós mesmos?
Focar nos estudos e ser altruísta o suficiente para falar: Eu preciso estudar isso porque eu preciso salvar uma vida. E você não faz, seja qual for o motivo. Ou melhor, quantas vezes nós médicos estivemos no papel de paciente, vendo outros profissionais agirem de formas que nós não agiríamos, mas nós não sabemos o que se passa ou o que já passou na cabeça de tal profissional.
Seja você leitor médico ou não médico.
Como você esconde as suas cicatrizes?
O que você faz para tapar essa dor e ir para o trabalho e seguir o dia? Você sequer faz isso? Você sequer pensa que o seu papel na sociedade pode ser muito importante para uma pessoa em um determinado dia, ao qual você pode realmente ajudar uma pessoa estando num dia muito ruim? Ou você já parou para pensar que você pode ter piorado de alguém só pelo mau atendimento? Ou por uma grosseria? Ou por simplesmente não estar afim de trabalhar no dia? Simplesmente também porque você deixou seu corpo e sua mente sucumbirem aos seus traumas, às suas dores?
Quantos médicos cometem suicídio? Quantos pacientes, médicos mal formados, mal profissionalizados, mal interessados, deixam perecer em suas mãos? Seja por ignorância, seja por falta de conhecimento.
Ou ainda pior, quantas vezes, agora só pra você, médico, você fez algo com muita dor, com muito peso, mas porque você, pelo código, pelo lei, foi obrigado a realizar, foi obrigado a fazer, mas você estava simplesmente, seguindo ordens.
Caso contrário, você sofreria as consequências de não ter seguido essas ordens. Como seria? O que você faria? Como seguir em frente?
Então eu deixo a reflexão para você, leitor. A dor é algo que te dá combustível para querer ser uma pessoa melhor e se livrar da dor? Ou a dor serve como uma zona de conforto? Uma zona de vitimismo? Onde toda a culpa dos seus problemas será dos seus traumas, da sua dor. E até a sua falta de atitude para resolver essa dor também é impedida por causa da presença dessa dor em você.
Texto escrito por Carlos.Dionizio.P.Freire

#05 – Rocky Balboa e a anatomia da resiliência silenciosa
Rocky Balboa nunca foi o mais técnico, o mais ágil, nem o mais inteligente do ringue. Era, no fundo, o sujeito comum — quase banal — que, de tanto cair e levantar, acabou se tornando extraordinário. E talvez seja justamente aí que reside o poder do seu símbolo: ele não representa o vencedor, mas o que continua lutando mesmo quando já deveria ter desistido.
A cultura atual exalta vitórias, mas silencia o mérito da persistência. Espera-se que o sucesso venha embalado em genialidade, facilidade ou destino. O que exige paciência, renúncia e sangue seco no canto da boca raramente é celebrado. Rocky caminha na contramão. Ele nos lembra, como escreveu Dostoiévski, que “o homem é um ser que se habitua a tudo” — inclusive à dor, à derrota, ao cansaço. E ainda assim, insiste.
Mas não é teimosia vazia. É um tipo de resiliência que não grita, não posa para foto, não quer aplausos. É a resistência silenciosa, a decisão diária de continuar, mesmo desacreditado, mesmo sozinho, mesmo exausto. Jordan Peterson, ao discutir responsabilidade pessoal, nos provoca:
“Escolha o fardo mais pesado que puder carregar e o leve com dignidade.” Rocky faz isso. Apanha, cai, mas volta. E não é pela vitória: é pelo que ele se torna ao atravessar o sofrimento.
Essa lógica incomoda. Ela exige que se olhe para a vida como luta real, e não como espetáculo. Que se entenda que dor não é exceção, é parte da estrada. E que a dignidade está não em vencer com facilidade, mas em suportar com honra.
Nelson Rodrigues dizia que “a vida como ela é” não perdoa os distraídos nem os fracos de vontade. E que o herói de verdade é aquele que acorda cedo e segue sua rotina, mesmo quando ninguém aplaude. Rocky, neste sentido, é o anti-herói perfeito: não é o melhor, mas é o que permanece. E isso basta.
Resiliência, afinal, não é sobre parecer forte, é sobre não quebrar quando tudo em volta está desabando. E mais do que isso: é sobre manter uma certa nobreza no meio do caos. Como alguém que, mesmo sangrando, se recusa a entregar o que acredita ser seu.
Rocky Balboa nos ensina que há honra no esforço solitário, que cair de pé é melhor que ficar de joelhos implorando que a vida seja justa (porque ela nunca será). E que a vitória verdadeira não é levantar o cinturão, mas se olhar no espelho depois da luta e dizer: "Eu aguentei."
Texto escrito por Pedro Henrique M. Braga
💭 Para levar com você:
📍 Quantas vezes alguém só precisava ser acolhido — mas acabou sendo rotulado?
📍 Quantas vezes você se exigiu força quando o que mais precisava era ser ouvido?
E se, antes de julgarmos a escuridão do outro, a gente perguntasse o que faltou de luz ao redor dele?
Ao longo desta edição, você acompanhou uma jornada que começou nas telas, mas termina dentro de nós.
De Thunderbolts a Darth Vader, exploramos personagens que, apesar de diferentes, compartilham a mesma essência: a dor invisível que grita quando ninguém escuta.
Falamos de cérebros sobrecarregados, corações reprimidos e silêncios perigosos.
Falamos de saúde mental — mas não como conceito abstrato, e sim como algo real, urgente, presente em cada consulta, cada relação, cada escolha.
Como futuros e atuais profissionais da saúde, precisamos enxergar além dos sintomas.
Precisamos entender que, muitas vezes, a raiva é medo, a frieza é trauma, e o silêncio é um pedido de ajuda disfarçado.
E talvez, a nossa maior tarefa não seja apenas diagnosticar — mas aprender a escutar o que não é dito.
📰 SEÇÃO #06 – Atualidades em saúde mental
Notícia + análise breve
A OMS declara aumento global nos casos de ansiedade em jovens pós-pandemia 🔗 Harvard Health Publishing – Emotional control and the heart
Brasil lidera ranking latino de burnout entre profissionais da saúde em 2024 🔗 NCBI – Global prevalence of anxiety disorders
Estudo de Harvard reforça que repressão emocional está ligada a doenças cardiovasculares - https://www.health.harvard.edu/heart-health/emotional-control-and-the-heart
📍 E fica a pergunta para você, que chegou até aqui:
Quantas máscaras você já julgou — sem nunca perguntar o que havia por trás delas?
Nos vemos na próxima edição.
Com menos armaduras. E mais presença.
Bem-vindo ao futuro do aprendizado em Medicina!

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