#12 - Jornal da Semana

Bom dia, leitor.Nesta edição, falamos sobre o que acontece quando o corpo é deixado para trás — seja no penhasco, no campo, na clínica ou diante da tela.O MEDPROJETO12 te convida a pensar sobre como — e por quem — ele será protegido.

O corpo virou interface, mercadoria, espetáculo. A pergunta é: quem vai protegê-lo quando ele não tiver mais voz?

Há um ponto em comum entre um aplicativo de apostas, um pico de montanha na Ásia, um centro cirúrgico, uma inteligência artificial diagnóstica e uma seringa de semaglutida: o corpo humano.

Nesta edição do MEDPROJETO12, percorremos seis territórios onde o corpo é manipulado, negligenciado ou moldado ao gosto do mercado.

Abrimos com a análise de João Paulo Egídio de Melo, estudante de medicina da Faculdade UniEvangélica, sobre os efeitos neurobiológicos das “bets” e sua relação com o sistema de recompensa cerebral.

Na sequência, revisitamos o caso Juliana Marins à luz da autópsia: o que a medicina legal revelou e o que a ausência de resposta revela ainda mais.

Também falamos de inteligência artificial, futebol de elite, redes sociais e farmacologia do emagrecimento. São temas diferentes, mas que compartilham uma questão central: o que estamos fazendo com o corpo — e por que isso importa tanto para a medicina?

#01 - ENTRE JOGOS DE AZAR E DOPAMINA: QUANDO O ENTRETENIMENTO VIRA VÍCIO?

MEDP12 | Neurociência e Atualidade

O sistema dopaminérgico do cérebro humano foi projetado para uma finalidade clara: Orientar nosso comportamento em direção à sobrevivência e à recompensa. Comer, se proteger e aprender. No entanto, o mesmo mecanismo que nos impulsiona também pode se tornar um ponto de vulnerabilidade. Em pleno século XXI, essa brecha biológica está sendo explorada em larga escala por plataformas de apostas esportivas online, conhecidas popularmente como "bets".

 O caso Virginia, como ficou conhecido, não é um fato isolado. Ele é o reflexo de um fenômeno crescente: O uso massivo de tecnologias que manipulam o nosso sistema de recompensa através da imprevisibilidade e da promessa de ganhos fáceis.

ENTRE NEURÔNIOS E ALGORITMOS: O SISTEMA DE RECOMPENSA SOB ATAQUE

A ciência tem avançado na compreensão de como o cérebro responde a esse tipo de estímulo. Estudos de neuroimagem mostram que, em usuários viciados, o córtex pré-frontal medial — região ligada ao planejamento e ao controle de impulsos — apresenta uma atividade aumentada relacionada a sistemas monoaminérgicos, sobretudo o serotoninérgico. Isso parece se correlacionar com altos níveis de impulsividade e tomada de decisões arriscadas. Também há evidências de uma maior capacidade de síntese de dopamina no estriado dorsal, região associada à formação de hábitos automáticos.

Mais que prazer, o que está em jogo é a expectativa. A dopamina é liberada de forma intensa não quando a recompensa é obtida, mas quando ela é antecipada. Esse fenômeno, conhecido como "erro de previsão da recompensa", é explorado pelas bets através de reforço intermitente e recompensas incertas. Cada aposta é uma promessa, cada quase-vitória, um disparo dopaminérgico.

O resultado disso é uma alteração progressiva no comportamento e no cérebro. A fronteira entre entretenimento e compulsão se dissolve quando o circuito de recompensa é hiperestimulado. A dopamina, que deveria guiar escolhas saudáveis, é sequestrada por um ambiente digital projetado para manter o usuário apostando.

O caso Virginia é um alerta urgente. Não são apenas finanças que estão em risco, mas o próprio funcionamento da mente. Em tempos de liberação das apostas online no Brasil, entender o impacto neurobiológico desse fenômeno é uma responsabilidade coletiva. Precisamos trazer a neurociência para o centro do debate regulatório, educacional e clínico. Afinal, quando o que está em jogo é a dopamina, o prejuízo é invisível até que seja tarde demais.


REFERÊNCIAS:

VAN HOLST, Ruth J. et al. Increased striatal dopamine synthesis capacity in gambling addiction. Biological Psychiatry, 2018.

KAASINEN, Valtteri et al. Serotonergic and dopaminergic control of impulsivity in gambling disorder. Addiction Biology, v. 28, n. 2, e13264, fev. 2023.

APERMAN, Andrew. Dopamine tools for motivation and focus [vídeo]. Huberman Lab, 30 mar. 2022. Disponível em: https://youtu.be/K-TW2Chpz4k

#02 - Autópsia de Juliana Marins revela a verdade: o que o corpo conta quando já não pode falar

Por Luiz Eduardo Martins Freire | MEDPROJETO12, ATUALIDADES

Juliana Marins tinha 26 anos, um mochilão pela Ásia, uma vida inteira em expansão — e um amor genuíno por paisagens que tiravam o fôlego. Caiu sozinha, aos pés do Monte Rinjani, na Indonésia, e nos deixou com perguntas que vão além da geografia: quem cuida dos corpos quando eles não têm mais forças para pedir socorro?

Nesta sexta-feira (27/06), a autópsia oficial revelou que Juliana morreu em decorrência de um trauma contundente, causado por múltiplas fraturas no tórax, coluna, ombro e membros, que levaram a lesões internas e hemorragia massiva. Os médicos estimam que ela tenha falecido em cerca de 20 minutos após os ferimentos, provavelmente sem tempo para perceber a dimensão da tragédia que a envolvia.

O que o corpo nos ensina — mesmo depois da morte?

Para além dos dados técnicos, a medicina nos lembra: um corpo fala até quando já não há voz. A ausência de sinais de hipotermia, por exemplo, indica que Juliana não resistiu tempo suficiente para sofrer seus efeitos. A inexistência de hérnia cerebral revela que o trauma craniano foi agudo, mas não prolongado. E os sangramentos ativos, ainda sem retração tecidual, reforçam: ela morreu cedo, rápido, brutalmente.

Essa leitura médica é dolorosa, mas importante. Porque ela alivia uma parte da angústia, ao mostrar que Juliana não ficou agonizando por dias como se chegou a temer. E, ao mesmo tempo, indicia falhas que antecederam seu último suspiro.

Entre estatísticas e silêncio: quem cuida do corpo em vida?

A medicina não é feita apenas de bisturi e protocolo. Ela também é feita de presença, de vigilância, de ética — especialmente quando se trata de corpos que dependem de outros para não morrerem sozinhos. Juliana foi deixada para trás por seu guia, exausta, desorientada, vulnerável.

Enquanto discutimos as fraturas pós-morte, precisamos encarar as que vieram antes: a fratura na confiança entre turista e guia; a fratura no sistema de resgate; a fratura da comunicação institucional; a fratura moral de um país que assiste uma mulher agonizar num penhasco por dias — sob mentiras.

“Juliana merecia mais. Agora, buscamos justiça”, declarou a família, em nota pública.

Uma vida saudável, um fim evitável

Juliana era jovem, ativa, com plena saúde física. Seu corpo foi submetido a uma força que nenhum organismo suporta. A autópsia revelou que não foi o frio, nem o tempo, nem a altitude que a matou. Foi o impacto. E a ausência de uma resposta rápida.

Do ponto de vista médico, sua morte foi tecnicamente rápida, mas humanamente prolongada demais. O tempo entre a queda e o resgate foi o tempo entre a chance e a omissão.

A medicina precisa estar lá — antes da queda

A medicina do futuro — e do presente — não pode mais se limitar ao hospital. Ela precisa ser parte da estrutura que previne, acompanha, alerta e socorre. Precisa estar nas decisões que criam políticas de segurança em trilhas, na formação de guias capacitados, na escolha de equipamentos adequados e no preparo físico e emocional de viajantes.

A morte de Juliana nos pede isso. Que a medicina seja ponte, antes que o corpo se torne silêncio.

Fontes:

#03 Radiologia e IA: o futuro exige mais que interpretação de imagens

Por Luiz Eduardo Martins Freire | MEDPROJETO12, ATUALIDADES

Em abril de 2025, o Google DeepMind revelou ao mundo um de seus projetos mais ambiciosos: um algoritmo de inteligência artificial capaz de superar radiologistas experientes na detecção precoce de câncer de mama em mamografias duplamente cegas. Não se trata de ficção científica — é estatística. Em testes clínicos randomizados, o modelo reduziu em até 11% os falsos-negativos e aumentou a sensibilidade sem comprometer a especificidade.

Mas a notícia provocou mais que admiração: levantou uma sombra sobre o futuro da radiologia tradicional.

O medo da substituição

Com o avanço acelerado das redes neurais convolucionais (CNNs) e dos large multimodal models (LMMs), muitos estudantes e profissionais da saúde passaram a questionar: "Radiologia ainda é uma boa escolha?"

Essa pergunta, apesar de legítima, parte de uma visão reducionista da especialidade — como se radiologistas fossem apenas técnicos de leitura de imagens. E é justamente isso que o futuro não comportará mais.

A IA não veio substituir o radiologista. Ela veio substituir o radiologista que não sabe trabalhar com IA.

O novo papel: do executor ao estrategista clínico

A radiologia do futuro será interdisciplinar, contextual, clínica e integradora. Em vez de entregar laudos descritivos e estáticos, o profissional será responsável por articular achados com quadros clínicos, dados laboratoriais, histórico familiar e até genética molecular.

Em termos simples: a IA pode dizer “nódulo irregular, BI-RADS 5”. Mas só o médico sabe dizer se esse achado muda a conduta de uma paciente de 83 anos com DPOC avançada e sem histórico familiar de câncer.

O radiologista será o curador das evidências, um arquiteto da narrativa diagnóstica, e não apenas o decodificador da imagem.

Onde mora o risco?

Segundo especialistas da Stanford School of Medicine, o principal risco não está na IA errar — mas no médico confiar cegamente nela. Modelos preditivos são treinados com bancos de dados historicamente enviesados, com predominância de peles claras, padrões anatômicos convencionais e pouca representação de doenças raras.

Além disso, há o problema do "erro plausível": a IA pode fornecer um diagnóstico com alta confiança, mas totalmente fora do contexto clínico. Sem o julgamento médico, o sistema de saúde corre o risco de se tornar automatizado, eficiente — e perigoso.

Educação médica e o novo currículo da radiologia

O futuro da radiologia exige uma transformação curricular urgente. Disciplinas como:

Interpretação crítica de algoritmos diagnósticos;

Machine Learning aplicada à medicina;

Bioética em IA médica

devem ser parte da formação dos novos médicos.

Hospitais, por sua vez, devem deixar de temer a tecnologia e começar a treiná-la junto com seus times. A IA não é um produto; é uma parceira clínica. E como toda parceira, precisa de supervisão, contexto e sensibilidade.

Conclusão: inteligência artificial não mata especialidades — ela expande fronteiras

A radiologia é uma das áreas que mais se beneficiará com a IA. Mas isso exige uma reinvenção ativa do papel do médico. O novo radiologista será menos operador de workstation e mais estrategista clínico.

Aqueles que souberem integrar dados, questionar algoritmos e interpretar incertezas serão insubstituíveis.

A medicina do futuro será feita por humanos que sabem usar máquinas — não por máquinas que substituem humanos.

Leia mais:

JAMA — Ethical Use of AI in Diagnostic Imaging

#04 - Copa do Mundo de Clubes 2025: o espetáculo que exige mais que talento

Por Luiz Eduardo Martins Freire | MEDPROJETO12, ATUALIDADES

A cidade de Nova York é palco da primeira edição reformulada da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, marcada para junho de 2025. A competição, agora com 32 clubes dos cinco continentes, inaugura uma nova era: um megaevento global nos moldes da Copa do Mundo tradicional, mas voltado para o universo do futebol profissional de clubes.

Entre os destaques já confirmados estão Manchester City, Real Madrid, Flamengo, Palmeiras, Al Ahly, León, Urawa Red Diamonds e outros campeões continentais. A FIFA promete um torneio com audiência de Super Bowl e faturamento bilionário. Mas nos bastidores do show, uma pergunta médica precisa ser feita: o corpo dos jogadores aguenta?

Corpo, mercado e limite: o que a medicina do esporte tem a dizer

A medicina esportiva moderna já não lida apenas com lesões e reabilitação. Ela opera em uma zona cinzenta entre desempenho máximo, exaustão fisiológica e imperativos comerciais.

Com o novo calendário da FIFA, um atleta de elite poderá disputar mais de 80 partidas por temporada, somando compromissos por clubes, seleções, pré-temporadas, viagens intercontinentais e eventos comerciais.

“Isso representa um risco direto à integridade física e mental dos atletas”, alerta o professor Karim Khan, editor do British Journal of Sports Medicine.

Os efeitos fisiológicos do calendário ultracompetitivo

Segundo estudos recentes da Aspetar Sports Medicine Journal, a exposição crônica a treinos de alta intensidade com recuperação inadequada pode levar a:

  • Síndrome do overtraining (OTS): fadiga persistente, perda de rendimento e disfunções hormonais;

  • Déficits cognitivos transitórios: redução de tempo de reação, coordenação e controle emocional;

  • Aumento do risco de lesões musculares e articulares, especialmente nos isquiotibiais e tornozelos;

  • Imunossupressão transitória, com maior incidência de viroses e infecções de vias aéreas superiores.

Um dado alarmante: jogadores que atuam em campeonatos com mais de 60 jogos ao ano têm 30% mais lesões musculares, segundo estudo da UEFA publicado em 2024.

A fisiologia da performance no limite

Durante uma partida intensa, um jogador de linha pode atingir frequências cardíacas superiores a 190 bpm, com picos de consumo de oxigênio (VO₂ máx.) na faixa de 60–75 mL/kg/min. A carga energética exige o uso combinado dos sistemas aeróbico e anaeróbico, com alta produção de lactato, perda hídrica de até 2,5 litros por jogo e queda da glicemia.

Recuperar-se plenamente entre partidas a cada 72 horas é, biologicamente, quase impossível sem protocolos avançados de reidratação, crioterapia, suplementação e controle neuroendócrino.

Neurociência da performance: além do músculo, o cérebro

Estudos de neuroimagem funcional mostram que o cérebro de atletas sob fadiga prolongada apresenta queda na atividade do córtex pré-frontal, o que compromete a tomada de decisão rápida — uma habilidade crucial em jogos de alto nível.
Além disso, há alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), que elevam o cortisol e prejudicam a recuperação.

Na Copa de 2025, o acúmulo de partidas em curto período será um experimento global em tempo real sobre os limites neuromusculares e neuroemocionais da performance humana.

Ética médica no futebol: o que (não) se fala

A medicina esportiva também carrega um dilema ético: até que ponto tratar um atleta é curá-lo — ou apenas mantê-lo em campo para não comprometer resultados financeiros?

Casos como o de Neymar — frequentemente liberado antes do tempo ideal de recuperação — e a recente polêmica sobre infiltrações pré-jogo no joelho de Karim Benzema revelam como decisões médicas em clubes de elite são frequentemente subordinadas a interesses empresariais e pressões contratuais.

"A recuperação acelerada nem sempre é sinônimo de cura. Às vezes é apenas silêncio biológico", afirma o médico do esporte Rodrigo Lasmar, responsável pelo departamento médico da Seleção Brasileira.

Leia mais:

#05 - TIKTOK, DOPAMINA E AUTOLESÃO: O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM OS CÉREBROS ADOLESCENTES?

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Um relatório do Royal College of Psychiatrists, publicado neste mês no Reino Unido, revelou um dado alarmante: o aumento de autolesões e comportamentos impulsivos entre adolescentes está diretamente associado à lógica neuroquímica das redes sociais – especialmente TikTok e Instagram Reels.

Os números apontam para uma alta de 27% nos atendimentos psiquiátricos emergenciais relacionados a cortes superficiais, distorção da autoimagem e ingestões intencionais entre jovens de 12 a 18 anos. Não se trata apenas de sofrimento individual, mas de um novo tipo de estímulo dopaminérgico coletivo: vídeos curtos, emocionais, repetitivos, que promovem a romantização do trauma como moeda de validação social.

Dopamina rápida, regulação lenta

Do ponto de vista neurobiológico, o ciclo viciante dessas plataformas está associado a uma descarga dopaminérgica repetitiva e descontextualizada. Com isso, o córtex pré-frontal – responsável pelo controle inibitório, pela tomada de decisão e pela avaliação de risco – é silenciado.

A dopamina, que deveria regular recompensas genuínas e aprendizado motivacional, torna-se estímulo bruto, incontrolado. O cérebro adolescente, em pleno desenvolvimento, é particularmente vulnerável a esse desequilíbrio. E não raro, o algoritmo reforça vídeos de sofrimento porque eles geram engajamento – criando, assim, ciclos de repetição perigosos.

A ética digital é também um campo da medicina

Esses comportamentos não nascem em consultórios, mas chegam até eles. O TikTok se tornou um território emocional não regulado, um espaço onde experiências de dor são amplificadas e monetizadas. E a medicina precisa estar presente: prevenindo, orientando, denunciando, protegendo.

Ignorar o impacto psíquico da arquitetura digital é, hoje, uma forma de omissão clínica.

Referências
Royal College of Psychiatrists – Youth Self-Harm and Social Media Report
Nature Reviews Neuroscience – The Adolescent Brain and Reward

#06 - OZEMPIC, WEGOVY E A MEDICALIZAÇÃO DO CORPO MAGRO: O CUSTO INVISÍVEL DO NOVO MILAGRE FARMACOLÓGICO

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A semaglutida, princípio ativo de medicamentos como Ozempic e Wegovy, transformou-se no símbolo mais evidente da medicalização moderna da imagem corporal. Criado inicialmente para o tratamento do diabetes tipo 2, hoje é utilizado por milhares de pessoas no mundo com foco único: emagrecimento.

Mas ao mesmo tempo em que esses medicamentos alteram curvas e pesos, eles também alteram significados. Estamos diante de um fenômeno onde a saúde virou performance, e a magreza – meta universal. A pergunta que precisa ser feita é: o que está sendo perdido no caminho?

O que dizem os dados

Estudos clínicos mostram que pacientes com obesidade perdem até 15% do peso corporal com semaglutida. Mas junto com a gordura, perdem-se também massa magra, eletroequilíbrio, estabilidade emocional. Há registros de náuseas persistentes, distúrbios depressivos, ideação suicida e dismorfia corporal pós-uso.

A dose semanal que regula o apetite também pode desregular a relação do paciente com o próprio corpo.

Entre prescrição e validação estética

Prescrever sem indicação clínica, ceder a pressões sociais ou tratar estética como patologia são escolhas que carregam responsabilidade ética. A fronteira entre autonomia e comercialização da saúde está cada vez mais borrada.

Como disse a endocrinologista Camille Verdier, “estamos usando fármacos hormonais para lidar com expectativas sociais, não com doenças”.

O médico como consciência, não como executor

Não se trata de negar a eficácia terapêutica desses medicamentos. Mas de reforçar: o papel do médico não é apenas intervir no corpo, mas compreender o que está sendo projetado sobre ele. O corpo magro como solução universal é uma ficção perigosa.

Referências
New England Journal of Medicine – Semaglutide in Obesity
JAMA Psychiatry – GLP-1 Agonists and Psychiatric Risk

Finalização editorial

O corpo sempre fala — nos sinais, nos silêncios, nas falhas que tentamos ignorar.
E quando ele já não conseguir mais, que a medicina esteja presente.
Não apenas para intervir, mas para reconhecer, proteger e escutar.

Nos encontramos na próxima edição.

Bem-vindo ao futuro do aprendizado em Medicina!

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